O fim da minha jornada na Syngenta digital e o que vem pela frente
É uma brincadeira recorrente nos times que eu trabalhei: em empresas de tecnologia que crescem rápido a gente vive anos de cachorro: cada ano vale por sete. Então se você está na empresa há dois meses, já é mais que um ano.
Acho que, quando fazem essa brincadeira, tem um toquezinho de ironia de como a vida em tech é dura, que prefiro fingir que não entendi. :-) De qualquer forma, a maioria (e os melhores) escolhem continuar lá, mesmo com a vida mais apertada, então entendo que, como eu, eles também gostam.
Bem, para Gabi, Carlos e eu, na Strider e depois na Syngenta digital foram 7 anos de vida de cachorro (4 pré-aquisição da Strider e mais 3 pós). Isso equivale a 28 anos humanos. É muito tempo.
Começamos como um time de outsiders no agro, para criar uma empresa que conseguia fazer algo útil, crescer o negócio com capital de risco, torna-se relevante, e depois vir uma aquisição, crescer mais e depois integrar-se completamente em uma empresa global, líder no segmento. Muitos dias difíceis.
Em termos de aprendizado, devem ter sido 28 anos mesmo.
O cara que sai é bem diferente do cara que entrou. Além de menos cabelo e uns quilos a mais, eu aprendi muito sobre o talento: essa coisa invisível que faz (ou pela falta, destrói) empresas.
Algumas pessoas, por uma motivação interna, escolhem fazer o melhor, tomando voluntariamente o caminho mais difícil. Isso não tem nada a ver com a liderança que elas têm ou mesmo com a empresa, vem delas.
Controle não cria talento (mas destrói, se não for usado direito).
O pulo do gato deste ciclo foi uma aposta all-in no talento do pessoal que trabalhava lá.
No começo a aposta era dos fundadores e dos investidores, depois virou uma aposta da Syngenta. Foi um ato de grande coragem da liderança Syngenta abrir mão do controle sobre a empresa que eles compraram no primeiro ato após-aquisição. Sou grato para sempre ao Dan e ao Savino, e depois ao Matt e ao Feroz por isso.
A aposta pagou bem, a operação cresceu cinco vezes nos principais KPIs, ficou mais eficaz e com melhor governança. Se não me engano, o time de BH é o maior time de TI que a Syngenta tem no mundo.
A galera que trabalhava lá virou gigantes. Até hoje me assusta como gente tão nova pode virar peso-pesado em tão pouco tempo.
Depois, quando chegou a hora de integrar, receberam o time de braços abertos. O time que reportava para mim: Henrique, Gustavo, Flora são hoje lideranças importantes na Syngenta, o Rafael, o Daniel e o Eduardo, que eram do time do Carlos, também. Tenho certeza que essa turma vai ter uma carreira brilhante na Syngenta (na verdade, em qualquer lugar que escolham trabalhar).
E tem umas 150 pessoas, que trabalham hoje na divisão digital, seguindo o mesmo caminho. Tem até a chance deste povo todo mudar um pouquinho a cultura da Syngenta :-)
Depois desses 7 anos, chega na hora dos fundadores irem embora. Trabalhamos duro para sermos descartáveis e ter este privilégio.
A vida é curta, a gente precisa encerrar umas coisas para que outras tenham a oportunidade de serem criadas.
Ontem, quando comunicamos nossa saída internamente, muita gente perguntou: e agora? o que você vai fazer?
Sei que vou fazer outra empresa, idealmente com os mesmos fundadores (depende deles também, né?). Para quem me conhece bem essa resposta é meio óbvia.
Não sei ainda o quê, mas vou procurar primeiro no agro. O founder-market-fit para mim é lá. A persona do produtor é legal demais!
A receitinha da Strider vai junto, com alguns (muitos) upgrades que aprendi no caminho.
O primeiro ano da empresa é guerra, a taxa de mortalidade é gigante, todo dia é uma luta, mesmo se você fizer tudo certo, se der azar, vai dar errado.
Mas ver o papel em branco na minha frente, de novo, é simplesmente legal demais! Compensa tudo isso. Vamos ver o que a gente desenha neste papel desta vez.